Ana Campaniço |
Carlos Alves |
Florbela Tibúrcio, Inês Moita, Carlos Aves e Ana Campaniço. |
Quanto à escrita da peça, revelou que normalmente há sempre alguma história ligada ao seu momento, mas que desta vez tal não aconteceu. Demorou cerca de um mês a ser escrita, pois é o prazo que normalmente estipula para ele próprio, para que desta forma consiga concluir a peça. "Se não estabelecesse um prazo, nunca acabava. Para mim, nunca estaria bom!".
Ao falarmos um pouco sobre os ensaios, asseguram os dois que momentos engraçados não faltam. "Há sempre partes em que não nos sentimos seguros, então decidi que se houvesse alguma coisa que ainda não estivesse bem, voltávamos atrás. A dada altura já fazia de propósito para me enganar e termos de repetir". Diz-nos a Ana, com um sorriso na cara que nos confirma ter sido capaz de deixar os seu colegas fora do sério. "Acabamos por ter de ser mais exigentes com os actores porque estamos na presença do autor da peça", reforça a actriz e encenadora.
Durante um ensaio da peça "Caídas em Desgraça". |
Para além de fumar, a actriz falou-nos de um momento especial que não deixa passar em branco antes de pisar o palco. "Peço sempre ao meu velhote que olhe por mim, porque ele pode estar lá para cima distraído". Refere-se ao pai que faleceu em Março do ano passado. "Tenho sempre uma conversa com ele antes de entrar e sei que ele vai orientar a malta". Diz também, que olha sempre para cima e entra com o pé direito. Para além destes pequenos rituais, confessa ficar com mau feitio no dia anterior à peça. "Às vezes fico insuportável e o Carlos tem de levar comigo". A mim, pareceu-me que o olhar do Carlos quis confirmar esta afirmação, mas não quero criar conflitos!
Já o Carlos diz que precisa de concentração antes de entrar em cena para poder passar o texto todo pela cabeça. Revela-nos também que se tem de benzer antes de pisar o palco. "É mais ou menos como os futebolistas (risos). Já é quase uma necessidade que tenho porque faço isso desde a primeira vez".
Algures por aí, quem sabe, em busca de concentração. |
Começaram por dizer que não tinham qualquer tipo de ritual, mas depois da nossa conversa fiquei com algumas dúvidas.
Como muitos já sabem, a Ana e o Carlos são mais do que colegas e por isso quis saber se em casa, as conversas vão para além dos assuntos de trabalho. Embora tenham começado por dizer que o trabalho fica em cima do palco, o Carlos acaba por dizer "Eu acho que a maior parte das conversas são sobre trabalho e quando não são sobre o nosso trabalho, são sobre o trabalho dos outros que fazem o mesmo que nós." Contudo a Ana acrescenta "Mas dá-nos gozo". Acabam por concluir que de facto falam sobre trabalho, "mas não nos absorve por completo", diz o Carlos e concordam os dois.
Não parecem estar para grandes conversas. |
Assim, é normal que não passem despercebidos. |
Para terminar não podia deixar de lhes fazer a pergunta óbvia: "Sentem-se caídos em desgraça?"
"Passo recibos verdes todos os meses. Estás a brincar comigo?", responde a Ana. "Eu sinto-me um bocado caído em desgraça", diz o Carlos. O actor questionou-se sobre o que poderia significar para as pessoas o título da peça e acha que, certamente lhes dirá alguma coisa. "Independentemente da história, acho que o título irá chamar a atenção, porque há muita gente que se sente caída em desgraça e não quer dizer que esteja na miséria."
No entanto, como actor, diz não se sentir caído em desgraça, porque nunca teve uma vida estável. "Os actores nunca estão caídos em desgraça, ou então, estão sempre!", diz Carlos. "Nós gostamos de contar os trocos. O amor à arte é tão grande que não tenho medo do que tenho pela frente.", diz a Ana.
Determinados, como sempre. |
O autor da peça sublinha que apesar de ser uma comédia, quer que as pessoas vão para casa pensar depois de a ver e que sintam alguma coisa.
Concluem que, no fundo estão caídos em desgraça, mas não é assim que se sentem. Pois, quem não desiste de lutar, dificilmente cai em desgraça.
Quando estávamos a terminar a conversa, o actor, encenador e autor Carlos Alves fez-me uma exigência. Pediu-me que vos transmitisse a sua opinião em relação à cultura em Portugal, que diz com toda a certeza, que essa sim, está caída em desgraça. Acrescenta ainda que não é apenas por causa do dinheiro, mas também pela forma como é encarada, não só pelos políticos, mas pela maior parte das pessoas. "Os políticos desistiram da cultura e as pessoas parecem estar a ir atrás. Se os políticos desistirem das padarias, as pessoas vão continuar a comer pão. Por isso, os políticos podem desistir da cultura, mas se as pessoas quiserem, ela vai continuar a existir."
Admite nunca ter tido qualquer apoio do estado e ainda assim, nunca desistiu e apela a que as pessoas façam o mesmo.
Apoiem então a cultura e o teatro e vão ao Auditório Carlos Paredes entre os dias 12 e 21 de Novembro para ver a peça "Caídas em Desgraça". Vão-se deixar cair em desgraça? Eu sei o que vou fazer!
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